Não estranhe se um dia esbarrar com o autor do seu livro preferido tocando em um bar. Conhecido pelo grande público como escritor, Luis Fernando Verissimo também é músico e deu um show de ritmo no SESC de Campos, no Rio de Janeiro. No palco do festival "Jazz, Blues & Imagem", ele apresentou um pouco de seu talento como saxofonista. Pelo visto, foi aprovado pelo público, que lotou a Praça da Bandeira, no dia 2 de agosto. O autor mostrou que também sabe se expressar por meio das notas musicais. Mas quem não estava acostumado com esta faceta musical do Verissimo também pôde conferir um bate-papo no Palácio da Cultura. Em entrevista ao jornal SESC Brasil, ele falou um pouco sobre a música, sua apresentação no SESC e, claro, literatura.
Jornalista, publicitário, cronista, tradutor, humorista, cartunista e torcedor do colorado. Além dessas funções, você ainda tem tempo para uma paixão antiga: a música. Quando a música passou a fazer parte da sua vida? O hobby chega a ser um exercício diário?
Luis Fernando Verissimo: Eu gostava muito de música desde garoto e lá pelos 13 ou 14 comecei a ouvir mais jazz. Quando fomos para os Estados Unidos em 1953 decidi que, já que estava indo para a terra do jazz, aprenderia a tocar um instrumento. Queria tocar trompete como o meu ídolo na época, Louis Armstrong, mas não tinham um trompete para emprestar no curso que procurei, tinham um sax. Foi o sax mesmo. Nunca cheguei a me aprofundar na música ou na técnica do instrumento, só queria poder brincar de jazzista, que é o que faço até hoje. Deveria ser um exercício diário, já que para instrumento de sopro é importante manter a embocadura, mas não consigo treinar como seria ideal. Quanto ao tempo, acho que para o que dá prazer a gente sempre encontra tempo.
No festival do SESC Campos você se apresentou com o grupo Jazz 6. Em 1959, você tocava com o conjunto Renato e seu sexteto, segundo você o maior sexteto do mundo. De lá para cá por onde você passou, e quais são suas principais influências?
LFV: O conjunto se chamava Renato e seu Sexteto. Quando estreou já tinha onze figuras, mas o nome ficou. Era, portanto, o maior sexteto do mundo. Agora o Jazz 6 perdeu um dos seus figurantes mas também não mudou de nome. Podemos nos apresentar como o menor sexteto do mundo. Toquei no conjunto do Renato em 1961, seu primeiro ano. Depois fui morar no Rio, e o conjunto cresceu e se tornou um dos melhores do estado. Passei uns 15 anos sem tocar, até que o Renato decidiu reunir a velha turma, só por farra. Mas como muitas pessoas tinham saudade da música daquela época, o resultado é que o conjunto do Renato voltou a tocar em bailes e teve uma segunda vida. Bem mais tarde, o contrabaixista Jorge Gerhardt, com quem eu tinha tocado na banda do Renato, reuniu alguns músicos com gosto comum pelo jazz para uma apresentação num bar de Porto Alegre e me convidou. Foi o começo do Jazz 6. Que já dura 12 anos.
Para você, o que é mais fácil e o que é mais prazeroso, se expressar por meio das palavras ou das notas musicais?
LFV: Se eu pudesse escolher, eu preferiria ser músico. Está um pouco tarde para me dedicar seriamente à música. Nem eu teria mais fôlego. Mas o que me dá mais prazer é a música.
Qual a sua relação com o SESC?
LFV: Fizemos esta apresentação em Campos que foi boa, acho que o público gostou. Nós certamente gostamos de estar lá. Já tínhamos nos apresentado no SESC São Paulo. Conheço alguns projetos, como o BiblioSESC e o Prêmio de Literatura.
Por falar em literatura, em 2003, você foi apontado como um dos escritores que mais vendem livros no Brasil. Como você enxerga o mercado, atualmente?
LFV: É claro que o mercado literário é limitado. Não só são poucos os que podem comprar livros como muitos entre os que podem não querem. Como disse o Mário Quintana, o pior analfabeto é o que sabe ler e não lê. Eu não posso me queixar, meus livros vendem acima da média, mas eu não poderia viver apenas da literatura. Poucos podem, no Brasil.
2 comentários:
Depois de tanto esperar.... Li!!!
Jah to com saudades!!!!
beijos
Nossa, quanto tempo que não venho aqui...
Lendo tudo de uma vez só!
Viu como foi boa idéia esse blog?
(:
Adorei a entrevista, ficou muito boa!
beijos
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