quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O lado B de Verissimo

Já que o papo é cultura, vou postar aqui uma entrevista que fiz outro dia com Luiz Fernando Verissimo. A matéria foi publicada no jornal SESC Brasil deste mês.




Não estranhe se um dia esbarrar com o autor do seu livro preferido tocando em um bar. Conhecido pelo grande público como escritor, Luis Fernando Verissimo também é músico e deu um show de ritmo no SESC de Campos, no Rio de Janeiro. No palco do festival "Jazz, Blues & Imagem", ele apresentou um pouco de seu talento como saxofonista. Pelo visto, foi aprovado pelo público, que lotou a Praça da Bandeira, no dia 2 de agosto. O autor mostrou que também sabe se expressar por meio das notas musicais. Mas quem não estava acostumado com esta faceta musical do Verissimo também pôde conferir um bate-papo no Palácio da Cultura. Em entrevista ao jornal SESC Brasil, ele falou um pouco sobre a música, sua apresentação no SESC e, claro, literatura.

Jornalista, publicitário, cronista, tradutor, humorista, cartunista e torcedor do colorado. Além dessas funções, você ainda tem tempo para uma paixão antiga: a música. Quando a música passou a fazer parte da sua vida? O hobby chega a ser um exercício diário?

Luis Fernando Verissimo: Eu gostava muito de música desde garoto e lá pelos 13 ou 14 comecei a ouvir mais jazz. Quando fomos para os Estados Unidos em 1953 decidi que, já que estava indo para a terra do jazz, aprenderia a tocar um instrumento. Queria tocar trompete como o meu ídolo na época, Louis Armstrong, mas não tinham um trompete para emprestar no curso que procurei, tinham um sax. Foi o sax mesmo. Nunca cheguei a me aprofundar na música ou na técnica do instrumento, só queria poder brincar de jazzista, que é o que faço até hoje. Deveria ser um exercício diário, já que para instrumento de sopro é importante manter a embocadura, mas não consigo treinar como seria ideal. Quanto ao tempo, acho que para o que dá prazer a gente sempre encontra tempo.

No festival do SESC Campos você se apresentou com o grupo Jazz 6. Em 1959, você tocava com o conjunto Renato e seu sexteto, segundo você o maior sexteto do mundo. De lá para cá por onde você passou, e quais são suas principais influências?

LFV: O conjunto se chamava Renato e seu Sexteto. Quando estreou já tinha onze figuras, mas o nome ficou. Era, portanto, o maior sexteto do mundo. Agora o Jazz 6 perdeu um dos seus figurantes mas também não mudou de nome. Podemos nos apresentar como o menor sexteto do mundo. Toquei no conjunto do Renato em 1961, seu primeiro ano. Depois fui morar no Rio, e o conjunto cresceu e se tornou um dos melhores do estado. Passei uns 15 anos sem tocar, até que o Renato decidiu reunir a velha turma, só por farra. Mas como muitas pessoas tinham saudade da música daquela época, o resultado é que o conjunto do Renato voltou a tocar em bailes e teve uma segunda vida. Bem mais tarde, o contrabaixista Jorge Gerhardt, com quem eu tinha tocado na banda do Renato, reuniu alguns músicos com gosto comum pelo jazz para uma apresentação num bar de Porto Alegre e me convidou. Foi o começo do Jazz 6. Que já dura 12 anos.

Para você, o que é mais fácil e o que é mais prazeroso, se expressar por meio das palavras ou das notas musicais?

LFV: Se eu pudesse escolher, eu preferiria ser músico. Está um pouco tarde para me dedicar seriamente à música. Nem eu teria mais fôlego. Mas o que me dá mais prazer é a música.
Qual a sua relação com o SESC?

LFV: Fizemos esta apresentação em Campos que foi boa, acho que o público gostou. Nós certamente gostamos de estar lá. Já tínhamos nos apresentado no SESC São Paulo. Conheço alguns projetos, como o BiblioSESC e o Prêmio de Literatura.

Por falar em literatura, em 2003, você foi apontado como um dos escritores que mais vendem livros no Brasil. Como você enxerga o mercado, atualmente?

LFV: É claro que o mercado literário é limitado. Não só são poucos os que podem comprar livros como muitos entre os que podem não querem. Como disse o Mário Quintana, o pior analfabeto é o que sabe ler e não lê. Eu não posso me queixar, meus livros vendem acima da média, mas eu não poderia viver apenas da literatura. Poucos podem, no Brasil.

2 comentários:

Unknown disse...

Depois de tanto esperar.... Li!!!
Jah to com saudades!!!!

beijos

M.r. disse...

Nossa, quanto tempo que não venho aqui...
Lendo tudo de uma vez só!
Viu como foi boa idéia esse blog?
(:
Adorei a entrevista, ficou muito boa!

beijos