terça-feira, 21 de agosto de 2007

O tempo que não se perdeu


"Não se contam as ilusões
nem as compreensões amargas,
não há medidas pra contar
o que não podia acontercer-nos,
o que nos rondou como besouro
sem que tivéssemos percebido
do que estávamos perdendo.

Perder até perder a vida
é viver a vida e a morte
não são coisas passageiras
mas sim constantes, evidentes,
a continuidade do vazio,
o silêncio em que cai tudo
e por fim nós mesmos caímos.

Ai! o que estave tão cerca
sem que pudéssemos saber.
Ai! o que não podia ser
quando talvez podia ser.

Tantas asas circunvoaram
as montanhas da tristeza
e tantas rodas sacudiram
a estrada do destino
que já não há nada a perder.

Terminaram-se os lamentos."
* Pablo Neruda

* Pra quem está tão distante e tão próximo.

Retorno




Vira!!! Ali ... pra esquerda ... Não!!!! Pro outro lado!!! Que merda, entrou errado. E agora? Segue e pega o retorno, mas presta atenção dessa vez.
Pra quem está no banco do carona isso é fácil, mas pra quem dirige é foda.
Principalmente se quem estiver no volante for eu. Não tenho senso de direção.
Direita e esquerda nem adianta falar.
Num vale também vir com a gracinha de que é a mão que você escreve, porque sou canhoto e essa regra não serve. Nem essa que é a mão do relógio, porque não uso.
Mas, voltando ao trânsito, apesar de ser louco e ter sempre um braço-duro, uma coisa é boa: sempre existe um retorno amigo a frente (mesmo que distante).
Se sou meio louco guiando um carro, imagine guiando a minha vida.
Nem sei como passei na prova prática e pra falar a verdade não me lembro de ter recebido aulas teóricas.
Bem, logo de cara já devia ter sido preso inúmeras vezes por dirigir embriagado.
Outras quinhetas por ter avançado sinais vermelho e por excesso de velocidade.
Perdi as contas de quantas vezes fiquei parado pensando pra onde ir e de quantas vezes parei pra pedir informações.
Mas uma coisa a certa: a vida não oferece retornos. Pelo menos não esbarrei com nenhum ainda.
Se você tiver passado por algum, bota aí a localização no comentário.
Aliás, localizar-se é uma coisa difícil. Alguns charlatões tentam vender mapas, mas não acredito. Só indo em frente mesmo pra saber onde acaba cada rua ou avenida.
E olha que já fui parar em cada buraco.
Por falar em buracos, não sei onde vão parar nossas contribuições, as pistas andam tão mal conservadas ultimamente.
Queria andar só estradas retas e com asfalto como tapete, mas pra isso tem que ser pagar um pedágio absurdo. Por isso ultimamente prefiro as trilhas off-road. São mais emocionantes, mas em contrapartida tive que ficar algum tempo na revisão ultimamente. O que importa é que estou na estrada outra vez. E que siga a viagem!
Quem sabe nos esbarramos em algum cruzamento...

domingo, 19 de agosto de 2007

Pessoas e Pessoa


"Nada me prende a nada.
Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma anguústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar."

Fernando Pessoa

"Se me recordo quem fui, outrem me vejo,
E o passado é o presente na lembrança.
Quem fui é alguém que amo
Porém somente em sonho.
E a saudade que me aflige a mente
Não é de mim nem do passado visto,
Senão de quem habito
Por trás dos olhos cegos.
Nada, senão o instante, me conhece.
Minha mesma lembrança é nada, e sinto
Que quem sou e quem fui
São sonhos diferentes."

Dois do Pessoa porque fiquei na dúvida entre qual escolher.
Um é pra refeltir durante o domingo de preguiça
e outro é uma homenagem a magrela protuguesa que adora esse homem. Com toda razão!
* Imagem: Dali

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Sem troco ...


- Próximo.

- Quatorze e noventa, senhor - agora me fita e depois olha fixamente minha carteira.

- Tem moedas?

- Vinte e cinco serve ... (até agora não entendi a matemática)

- No momento estamos sem troco. Posso lhe oferecer três balinhas?

Isso quer dizer, três, vírgula três, três, três, três, e lá se vão três décimos de centavos por cada bala. Calculista, eu? Não, claro que não. Muito menos pão-duro. É que ultimamente tenho me dado conta que o mundo anda sem troco. Esquisito, né?


Quando era criança achei uma carteira bem fuleira na rua, mas cheia de dinheiro. Procurei o dono e fui devolver. Esperava ganhar um troco com isso e sair com a cabeça tranqüila. Mas o trocado não veio. Talvez fosse o primeiro sinal de sua escassez.


Os policiais são mais espertos. Parecem ter percebido este desaparecimento muito antes de toda a população. Pelo menos, desde que me conheço por gente, sempre que sou parado numa blitz eles estão querendo um troco.


Eu também deveria ter descoberto isso antes. Quando , além da carteira, tive outra situação em que isso ficou claro. Um menino da oitava série bateu em mim. Queria dar o troco, mas primeiro veio o medo, depois a coragem e em seguida a frustação: não havia troco. Me fudi outra vez. Resultado: moral perdida e dois dias de suspensão.


Hoje assisti ao noticiário e mais um político anda envolvido em esquemas, como sempre roubando nosso dinheiro. Aí me pergunto: quando alguém vai dar o troco nesses otários? Parece difícil. A justiça anda se vendendo por miseros trocados.

Outro dia uma criança na rua veio com umas balas pra vender e pediu: "tio me dá um trocado?". Não resisiti. Mesmo sabendo que estão acabando com o troco, meti a mão no bolso da calça e passei alguns centavos. Nessa escassez, quem deve estar sofrendo mais é ele. E não queria que ele descobrisse esse triste mistério e pensasse num futuro no qual não existe troco. Que infância sem fantasia seria essa? Por isso comprei.


E o que me resta? Balinhas coloridas, amassadas, sem graça, nem gosto - pelo menos são assim as que eu costumo engolir.